Diz a tradição judaica que não existe nenhuma diferença entre
homens, mulheres, plantas, animais ou mesmo uma folha enquanto matéria. Que o
que os diferencia é apenas a “palavra secreta”, um certo som, uma certa
vibração que nos agrega de uma forma ou de outra, na essência somos o mesmo.
Hoje, ao ir a certa estação de trem, havia próximo à grade da
entrada um casal em pleno ato sexual. Não havia ali algo escandaloso,
conseguiram estar em público de maneira relativamente discreta, embora fosse
perceptível a eletricidade sexual reinante. Me Observei, e vi que havia mudado
minha forma de perceber, não rechacei, não critiquei, não houve ali o falso
moralismo de sempre (que absurdo, que falta de pudor, que animalidade).... não.
Não entendi realmente porque estavam ali se poderiam estar em outro lugar.
Porém e talvez tenha sido exatamente essa a motivação, o não declarado, a não
obviedade, a necessidade de limitar ao máximo os movimentos. A busca ali de uma
sutileza maior, o pequeno e sutil flexionar do joelho poderia gerar a mais
intensa sensação. Pequeno movimento para trás, um leve balançar para diante.
Ela estava na frente do homem, porém de costas para ele, mas nada se via de
fora, parecia a um olhar desatento apenas e tão somente um casal de namorados
abraçados. Ela percebia-se triunfante, dominadora e controlando com seus
mínimos gestos o momento, o homem seguindo a tendência daquele que é seduzido
estava rendido totalmente aos encantos e controle de sua parceira.
O dia estava amanhecendo. Não conseguia na minha pequena
capacidade de observação compreender o que se passava naqueles dois mundos que
se chocavam. Não consegui ali compreender em toda a plenitude aquela motivação,
quão colorido poderia parecer o mundo para aquele casal? O quão agradável e
perigoso seria aquele momento? Como seria aquele desfecho? Como sairiam dali?
A necessidade chamou, voltei ao carro, sentei e saí dali,
teria que chegar ao local correto, aquela estação não era a que procurávamos,
enquanto seguia naquela avenida, vi como é rica a criação, como é extravagante,
como é diversificada em seus objetivos, em suas vivências.
Ao chegar naquela estação, vi o trem, e percebi que deveria
seguir, Observando e aprendendo, era o momento de voltar para casa.
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