02/11/2014

Sexo e Estação



Diz a tradição judaica que não existe nenhuma diferença entre homens, mulheres, plantas, animais ou mesmo uma folha enquanto matéria. Que o que os diferencia é apenas a “palavra secreta”, um certo som, uma certa vibração que nos agrega de uma forma ou de outra, na essência somos o mesmo.
Hoje, ao ir a certa estação de trem, havia próximo à grade da entrada um casal em pleno ato sexual. Não havia ali algo escandaloso, conseguiram estar em público de maneira relativamente discreta, embora fosse perceptível a eletricidade sexual reinante. Me Observei, e vi que havia mudado minha forma de perceber, não rechacei, não critiquei, não houve ali o falso moralismo de sempre (que absurdo, que falta de pudor, que animalidade).... não. Não entendi realmente porque estavam ali se poderiam estar em outro lugar. Porém e talvez tenha sido exatamente essa a motivação, o não declarado, a não obviedade, a necessidade de limitar ao máximo os movimentos. A busca ali de uma sutileza maior, o pequeno e sutil flexionar do joelho poderia gerar a mais intensa sensação. Pequeno movimento para trás, um leve balançar para diante. Ela estava na frente do homem, porém de costas para ele, mas nada se via de fora, parecia a um olhar desatento apenas e tão somente um casal de namorados abraçados. Ela percebia-se triunfante, dominadora e controlando com seus mínimos gestos o momento, o homem seguindo a tendência daquele que é seduzido estava rendido totalmente aos encantos e controle de sua parceira.
O dia estava amanhecendo. Não conseguia na minha pequena capacidade de observação compreender o que se passava naqueles dois mundos que se chocavam. Não consegui ali compreender em toda a plenitude aquela motivação, quão colorido poderia parecer o mundo para aquele casal? O quão agradável e perigoso seria aquele momento? Como seria aquele desfecho? Como sairiam dali?
A necessidade chamou, voltei ao carro, sentei e saí dali, teria que chegar ao local correto, aquela estação não era a que procurávamos, enquanto seguia naquela avenida, vi como é rica a criação, como é extravagante, como é diversificada em seus objetivos, em suas vivências.

Ao chegar naquela estação, vi o trem, e percebi que deveria seguir, Observando e aprendendo, era o momento de voltar para casa.

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