24/11/2009

VISITA


Vocês já receberam visita?

Receber visita é uma coisa interessante; existem 4 tipos de visita.

1- A visita esperada: aquela que você sabe que lhe trará momentos de prazer, de alegria, de contentamento. Aquela visita que você quer compartilhar as novidades, os sonhos, que você quer ensinar e aprender. A visita que você gostaria de mostrar aquele restaurante de comida nordestina que é uma delicia, aquele outro de comida árabe (karoouf). Aquela visita que você programa 3 dias, mas que sonha que permaneça 10 dias. Os assuntos não se esgotam, as reflexões também não. Tudo desliza suavemente, como uma brisa. Até no momento do cansaço de fazer sala torna interessante tudo, porque ao se afastar por segundos, a preocupação de deixar essa visita bem confortável torna o afastamento obsessivo, pesado, denso e o desejo de retornar é premente. 20 segundos depois parece um novo encontro, parece que tinham se deixado a meses... e tudo recomeça com infinita graça. O momento da despedida é terrível, mas vem com o entendimento de não é a hora de ficar sempre junto, ou de que se ficasse o brilho não seria o mesmo, acompanha um belo e quente sentimento de aceitação. As lágrimas jamais poderiam faltar nesse instante, pois regam a expectativa do reencontro, sela com a sinceridade do coração uma emoção superior, sóbria, não histérica, não ausente de comedimento e sensatez.... essa é a visita desejada e amada.

2- A visita de parente tipo 1: essa principal preocupação é que nada falte e que o conforto seja pleno. É a que gera mais gastos, mas com prazer. É um momento de festa e alegria, do corpo e da alma.

3- A visita de parente tipo 2: aquele parente que era ou se tornou distante. Tudo assume um aspecto de disfarçada formalidade, as palavras saem trôpegas, os momentos de silêncio são evitados com todas as forças. Temor de que falte assunto. O plano é de ficar 8 dias, mas o sonho que fique apenas 3 torna-se uma realidade. Se a pessoa nem tira o prato da mesa, tudo fica pior, lavar prato pra ajudar? Nem pensar... o parente veio pra descansar, o anfitrião que cuide de tudo. Na hora da conta a pessoa sai para ir ao banheiro do restaurante, a inconveniência de esperar para apresentar a conta recheada com a distância que retirou toda a intimidade é um convite a que o anfitrião pague “solo” a conta, para desespero do orçamento talvez estourado.... o momento da despedidas pedem lágrimas, mas de alegria.

4- A visita do Estranho: normalmente é a necessidade da recepção forçada. Necessidade institucional, profissional, pessoal. Pode ser um chefe, um líder, um superior, um parente da(o) esposa(o), da(o) namorada(o), etc. Desespero dos desesperos, total falta de assunto; falar de chuva num lugar onde faz sol 366 dias por ano (pouco provável)... bolsa de valores? nem pensar, você não entende nada disso. Assuntos triviais você acha um saco. Falar da vida de famosos, impossível, você não lê caras. Seu assunto refere-se às bases da reflexão filosófica humana... você encontrou a chave de todos os mistérios, a pessoa costuma ler Augusto Cury, ou Içami Tiba.... ou pior ainda, sustenta-se na teoria acadêmica de que o mundo é alimentado por revisões bibliográficas..... a Crítica mordaz presente nesse texto não é bem vinda nos diálogos... literalmente não há sobre o que falar. Translados de carro, o silêncio torna-se tão denso, que você pensa que o teto do carro vai afundar. Os minutos para a partida começam a ser contabilizados.... no momento glorioso, os fogos estão já atrás da porta junto com a vassoura, o momento é acompanhado com religiosa consciência, pegar a mala, sacola, tudo é visto como um ritual belo, que expressa o manejo das forças espirituais de condução de todo o mal humano ao abismo.... a atmosfera torna-se leve, etérica, você se sente sob a influencia zodiacal de peixes.... intercalam-se tremores momentâneos de elevação espiritual... em silêncio você ouve a música das esferas... quando no último instante, ao colocar a mala no carrinho do aeroporto, aquele aperto de mão e o desculpa qualquer coisa, torna-se o momento supremo do Satori. Você percebe todo o seu corpo enchendo-se de gratidão por aquele momento, tudo fica colorido, perfumado... a vida parece pulular de expectativas ao se imaginar andando de cuecas de novo pela sala e dançar como os atores americanos do início do século com uma bengala na mão....
Ao sentar no banco do carro, coloca Uma Louca Tempestade (Ana Carolina) bem alto no som do carro.... respira fundo....... e lembra que o grande prazer do sapato apertado é descalçá-lo. O doido da vila que o diga.... DEUS ME CONCEDEU A POTÊNCIA INSUPORTÁVEL DE LHE SUPORTAR!!!!

2 comentários:

  1. rs...ai céus...espero ser uma visita boa...rs...adorei. E...acho que esse doido se torna famoso qualquer dia desses!

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