09/09/2011

Passeio Público


O Passeio Público!! Ah, não era mais o passeio, sob D. Pedro I, aquela mesma envaidecedora maravilha, aquele jardim curioso e bizarro, com que Luis de Vasconcelos, o vice-Rei havia em 1783 aformoseado a Corte. Já lá não existiam, devastados pelo rolar dos anos, aqueles famosos enfeites de conchas e de escamas, obra prima de Xavier das Conchas, que fizeram tanto tempo a delícia dos coevos. Muita coisa lá se fora. Muita! Mas ainda restavam tantas... Caramanchões cobertos de madressilvas e de jasmineiros. A pirâmide de azulejo, recamada de heras, com sua frase enlanguescente "saudade do Rio". E naquele menino célebre, todo nú, despejando um filetizinho de água, a dizer a toda gente: "sou útil até brincando". Ainda lá estavam os lagos artificiais, grandes e crespos, com pássaros de pedras pousando à tona das águas. E os dois magníficos jacarés de bronze, vomitando jorros de água pela goela escancarada, que Valentim Fonseca da Silva, o mais afamado entalhador da época, ajeitara pitorescamente entre penhascos e musgos. (...)
(...) O dia seguinte amanhecera claro, de sol forte, com alegrias redourantes a faiscar por tudo. A chácara de mataporcos, escondida entre a folhagem, discreta como um ninho de beija-flor, dorme, chiante de cigarras cantadeiras, entre a galhaça abrigadoura das árvores patriarcais.
(Paulo Setúbal)

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